Fuente: O Globo
MANAUS - Foi inaugurado, nesta sexta-feira, um projeto de exploração de energia solar em reservatórios de hidrelétricas, o primeiro do gênero no mundo. Houve o lançamento de um piloto com 16 painéis de placas fotovoltaicas e geração de 4 quilowatts (kW) no lago da usina hidrelétrica de Balbina (AM). Os estudos vão apontar se essa alternativa tem viabilidade econômica e ambiental. O custo de geração de energia a partir do sol ainda supera valores de outras tecnologias consolidadas, como térmicas, hidrelétricas e também eólicas. No lado ambiental, a dúvida é qual impacto que essas placas sobre flutuadores nos lagos terão sobre a fauna, por exemplo, em oxigenação e na temperatura da água.
A partir da próxima semana, o mesmo piloto será implantado na hidrelétrica de Sobradinho, para se comparar o desempenho dos equipamentos em dois ecossistemas. A experiência prevê a instalação de um conjunto de placas para geração de 5 Megawatts (MW) a ser instalado no período de um ano em Balbina e 5 MW em Sobradinho (BA).
Segundo lo ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, mesmo que essas respostas sobre os impactos ambientais e os custos ainda não estejam equacionadas, a instalação de geração de energia solar em reservatórios de hidrelétricas conta com uma vantagem de saída, que é a infraestrutura de transmissão.
— É uma infraestrutura pronta e ociosa _ disse Braga, referindo-se à geração de Balbina hoje estar em cerca de um quinto de sua capacidade total, por conta do nível baixo do reservatório. _ Temos uma subestação e uma linha de transmissão subutilizadas — completou.
O estudo é coordenado pela Sunlution e pela WEG, ambas empresas brasileiras. As pesquisas sobre impacto ambiental serão feitas pelas universidades do Amazonas (UFAM) e de Pernambuco (UFPE). Os investimentos de mais de R$ 110 milhões e eventuais patentes obtidas pelos estudos pertencerão à Chesf e à Eletronorte, ambas subsidiárias da Eletrobras.
— A partir daqui se revelará qual percentagem da água poderemos usar, qual a influência dos painéis no sistema ecológico. Mas, na nossa conta, se usarmos 1% do reservatório, poderemos gerar com energia solar quase dez vezes a capacidade hidrelétrica de Balbina — disse José da Costa Carvalho, presidente da Eletrobras.
Segundo Orestes Gonçalves, sócio-diretor da Sunlution, experiências similares de geração de energia solar flutuantes já existem em outras regiões do mundo, como Europa e Japão, mas nunca em hidrelétricas e em grande escala.
— A ideia é de uma usina híbrida, em que a hidrelétrica e a solar usam a mesma infraestrutura — disse Gonçalves.
As placas solares serão trazidas da China e, inicialmente, os flutuadores (que funcionam como boias) serão também importados, mas há intenção da Braskem e parceiros de produzí-los em Camaçari (BA). Braga comparou o lançamento do projeto de geração nos flutuadores ao passado da geração de energia eólica, que não existia há dez anos e hoje já é disseminado e tem construção de componentes e turbinas no Brasil.
Segundo Gonçalves, por ter funcionamento complementar ao das hidrelétricas, as placas solares flutuantes poderão ajudar na recomposição dos reservatórios que se reduziram nos últimos anos de seca mais severa.
— Em vez de levar 12 anos para trazermos de volta nossos rios e bacias hidrográficas, isso poderia durar oito anos — disse o fundador da Sunlution.
Pesquisadores das universidades parceiras nessa tarefa farão mais de dez projetos de pesquisa para avaliar o impacto e a viabilidade técnica e ambiental do empreendimento.
José de Castro Correia, professor da UFAM e coordenador dos estudos, reconhece que a hidrelétrica de Balbina, no coração da Amazônia, é geralmente comparada a um desastre ambiental, por seu baixo aproveitamento em geração de energia em comparação com o lago gigantesco.
— As placas vão dar um novo olhar sobre a usina, mas a pesquisa não é obrigada a chegar a um resultado favorável. Podemos chegar à conclusão de que os flutuadores com geração solar não são viáveis — disse Castro
Segundo o pesquisador, porém, se as placas forem colocadas em 1 hectare do reservatório de Balbina, essa área terá produtividade mil vezes maior do que gera em hidreletricidade um mesmo hectare da usina.
— Balbina é um dos maiores crimes ambientais que a engenharia já fez nesse país. Como mitigar esse crime? Melhorando o custo-benefício da usina. Vamos estudar os impactos, mas podemos tranquilamente, com a subestação e a linha de transmissão que temos aqui, colocar 300 MW de energia (solar) — disse Braga.