Segundo Parente, sua gestão vai ter foco em explorar ao máximo os recursos do petróleo no pré-sal. Em seu discurso, ele destacou a importância de fazer parcerias para enfrentar seus atuais desafios.
Fuente: O Globo
  
RIO - Ao tomar posse como novo presidente da Petrobras na manhã desta quinta-feira, na sede da empresa no Rio, Pedro Parente afirmou apoiar a revisão da Lei do da Partilha, que define as regras do pré-sal, para suspender a obrigação da estatal como operadora única nessa camada. Ele falou contra o uso político-partidário da empresa e reafirmou o compromisso em colaborar ao máximo com as investigações da Operação Lava-Jato.
 
— A Petrobras e o Brasil não podem se dar ao luxo de esperar tempo demais. Precisamos atuar sem estarmos presos a amarras dogmáticas, e com a colaboração das empresas parceiras. Apoio a revisão da Lei do pré-sal, pelo direito de preferência à empresa, com a participação que julgar atender melhor aos seus objetivos — disse Parente, marcando o primeiro posicionamento oficial da Petrobras sobre o assunto.
 
Ele argumentou que a atual lei não atende nem os interesses da Petrobras nem do país por duas razões principais. A primeira é a situação financeira da empresa, que caso a lei não seja revista, a consequência será retardar em previsão a exploração plena do potencial do pré-sal. Depois, a obrigação tira da companhia a liberdade de escolha de só participar dos campos que atendam seu interesse. Do contrário, participaria mesmo de investimentos não prioritários ou sem resultado, o que seria impróprio para uma companhia cm capital em bolsa e com milhares de acionistas.
 
Ele destacou que no esforço para reduzir o endividamento e equilibrar o caixa, o desinvestimento será uma frente importante. Ainda não há detalhes sobre que ativos seriam vendidos. Parente esclareceu, contudo, que esse processo pode se dar também por meio de parcerias, não obrigatoriamente passando pela venda total de um determinado ativo.
 
Parente também destacou que a companhia continuará a dar total prioridade e apoio às investigações da Operação Lava-Jato e chamou de quadrilha os ex-funcionários que participaram do esquema de corrupção na companhia. Por último, Parente buscou o apoio dos empregados da empresa, homenageando na solenidade o funcionário mais antigo em atividade, Raimundo Pamplona, e uma funcionária mais nova, Erica Valoni.
 
Segundo Parente, sua gestão vai ter foco em explorar ao máximo os recursos do petróleo no pré-sal. Em seu discurso, ele destacou a importância de fazer parcerias para enfrentar seus atuais desafios.
 
— Entendemos que uma política de conteúdo local é necessária, mas, para isso, a parceria precisa incentivar a inovação, deve prevalecer a competência que permita passar pelo teste ácido da concorrência — destacou.
 
O novo presidente da petroleira destacou que apoia a mudança nas regras para tirar da Petrobras a obrigação de ser operadora única, com 30% de participação, no pré-sal:
 
— Se essa exigência não for revista, a consequência é retardar a exploração no pré-sal. Essa obrigação retira a liberdade de escolha da empresa. Mantida essa obrigação, a empresa pode ser forçada a participar de empreendimentos que, em sua avaliação, não seriam prioritários naquele momento.
 
O executivo destacou ainda que a Petrobras precisa melhorar sua imagem e governança:
 
— A Petrobras foi vítima de uma quadrilha organizada para praticar crimes, que se valeram de seus cargos para galgar seu projetos pessoais de poder. Essa condição de vítima não pode ser encarada como passividade. Vamos contribuir com a Operação Lava-Jato para descoberta de todos os crimes — destacou.
 
CRÍTICAS À ANTIGA GESTÃO
 
Parente fez ainda duras críticas a antiga gestão da companhia:
 
— A euforia e o triunfalismo dos discursos recentes não servem mais para esconder os descalabros aqui praticados. A Petrobras foi vítima de uma quadrilha, com crimes cometidos por pessoas que se valeram de seus cargos para galgar projetos pessoais de poder — enfatizou o presidente.
 
Ele destacou que limpar a imagem da empresa é uma das prioridades, trazendo a Petrobras de volta ao posto orgulho dos brasileiros, posição que não deveria ter perdido. Ele ponderou que para sair da grave situação atual -- a Petrobras tem hoje R$ 450 bilhões em dívidas -- há quem defenda que a União, principal acionista da companhia, deveria promover uma capitalização da petroleira.
 
— Não gosto dessa visão. Ela joga sobre o contribuinte a solução de um problema que ele não ajudou a criar. Há o grave quadro fiscal no país, que exigirá medidas duras de ajuste. Vamos buscar saídas que não sejam essa. Mas não quer dizer que vamos dispensar ajuda de autoridades brasileiras — disse Parente, destacando que a estabilidade regulatória ajudaria muito.
 
Toda a atual diretoria será mantida e teve seu trabalho elogiado por Parente. Ele força para mudar a situação da empresa, conduzindo-a de volta ao crescimento e aos resultados positivos. Também foi taxativo ao afirmar que a companhia terá liberdade na política de ajuste de preços.
 
— Os dois maiores desafios que já enfrentei, o Apagão e a presidência da Petrobras.
 
PRESIDENTE DO CONSELHO CRITICA PETROLEIROS
 
Na solenidade de posse, o presidente do Conselho de Administração da companhia, Nelson de Carvalho, criticou petroleiros pela resistência à nomeação de Pedro Parente.
 
Após a indicação de Parente para a presidência da Petrobras, o Sindicato dos Petroleiros enviou críticas formais ao Conselho de Administração da companhia, alegando que quando assumiu a coordenação da crise energética no país, em 2001, decisões tomadas em relação ao uso de termelétricas resultaram em prejuízos de até US$ 1 bilhão para a estatal.
 
Carvalho confirmou ter recebido as manifestações dos petroleiros, fazendo comentários duros sobre o posicionamento:
 
— Muito me alegra saber que os petroleiros estão preocupados com os prejuízos financeiros da Petrobras. Se tivessem preocupados com isso há mais tempo, talvez não teríamos chegado ao ponto a que chegamos.
 
Carvalho destacou também a gestão de Aldemir Bendine à frente da estatal. Fez um breve histórico da gestão tanto de Bendine quanto do novo conselho de administração no último ano, lembrando a situação difícil em que a Petrobras se encontrava, sem conseguir publicar o balanço de 2014, e que hoje está com um fluxo de caixa positivo de US$ 100 bilhões.
 
Carvalho destacou ainda que a Petrobras conseguiu evitar interferência na sua política de preços dos combustíveis e não aceitou indicações políticas para seus cargos. E afirmou que inicia seu novo mandato como presidente do conselho com chave de ouro com a chegada de Parente.
 
— O novo mandato no conselho começa com chave de ouro com a estatura profissional de Pedro Parente — afirmou Carvalho.
 
O ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho, destacou o papel importante da Petrobras neste momento de retomada do crescimento econômico do país, assim como o da recuperação da imagem da companhia.
 
— O cenário atual é muito desafiador, por isso, Pedro, o presidente Michel Temer optou por seu nome. Temos certeza que a Petrobras vai superar não só os desafios do passado, mas as transformações necessárias no presente.
 
PRESIDENTE DO IBP: ESPERANÇA
 
Jorge Camargo, presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP) está esperançoso com o novo presidente da Petrobras. Ele descreve Pedro Parente como um dos mais competentes gestoras que conhece.
 
— Parente geriu a crise de energia no país, em 2001. Como conselheiro da Petrobras, era sempre o mais preparado. Está afinado com a agilidade do novo governo federal, que já deu sinais importantes para a recuperação do setor de óleo e gás.
 
Ele destacou a posição do governo federal de mexer no marco regulatório do petróleo, liberando a Petrobras da obrigação de atuar como operadora única do pré-sal.
 
— A liberação da Petrobras da operação única (do pré-sal) vai depender da aprovação do Congresso, mas é um sinal muito importante para o mercado. Vai permitir fazer leilões com certa rapidez — destacou Camargo.
 
A atual agenda do governo interino de Michel Temer, destacou ele, favorece a retomada do investimento privado no país.
 
— É uma forma de usar o setor de óleo e gás para alavancar a economia do país — disse o presidente do IBP.
 
O projeto em tramitação na Câmara, já tendo sido aprovado pelo Senado, e deve ser apresentado até meados de julho, diz Camargo. Se aprovado, segue direto para sanção presidencial. Caso contrário, terá de retornar ao Senado para modificações.
 
Ele destacou que o investimento previsto para este ano em produção e exploração de petróleo e gás no Brasil é de US$ 20 a US$ 25 bilhões.
 
— É muito baixo. O Brasil tem potencial para ter ao menos 10% do investimento mundial no setor, que está em US$ 700 bilhões.