Os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e seus parceiros vão se reunir nesta quinta-feira (30) em Viena, a fim de prorrogar o acordo que limita a produção de petróleo e que, nos últimos meses, conseguiu estimular a alta dos preços.
Fuente: O Globo
   
Tudo indica para uma extensão nas mesmas condições do acordo histórico de 2016, quando 24 países produtores – 14 membros da Opep e outros petroleiros, como a Rússia – concordaram em reduzir sua produção em 1,8 milhão de barris diários.
 
O pacto, que começou a ser aplicado em janeiro deste ano, por ora será mantido até março de 2018. Ele foi fundamental para a queda das reservas mundiais e a recuperação recente dos preços, que agora estão por volta de US$ 60 o barril de WTI e US$ 65 o de Brent do Mar do Norte, em relação aos US$ 30 do barril no começo de 2016.
 
"Os acordos do ano passado serviram para dar apoio ao mercado (...). Agora, as coisas que a Opep diz têm mais crédito, o preço se recuperou de forma razoável, e estamos em uma situação muito melhor do que há um ano", explica à AFP o diretor do programa Energia do Real Instituto Elcano de Madrid, Gonzalo Escribano.
 
Os preços também se beneficiaram do otimismo em relação à recuperação econômica mundial e das perspectivas de aumento da demanda.
 
"Conseguimos o que nossos críticos achavam ser impossível", comemorou nesta segunda-feira o secretário-geral do cartel, o nigeriano Mohammed Barkindo.
 
Há, contudo, incógnitas sobre a possibilidade de as tensões entre os países-membros - principalmente entre Arábia Saudita e Irã, além do Catar, isolado dos demais países do Golfo - colocarem em risco o objetivo de prorrogar o pacto até o fim de 2018.
 
"Tivemos outras situações, como quando o Iraque invadiu o Kuwait, ou na guerra Irã-Iraque, em que esses países podiam participar da Opep e trabalharam juntos, apesar de suas diferenças políticas e até militares", lembra o analista geopolítico Richard Mallinson, da Energy Aspects.
 
Putin, novo rei do petróleo?
 
Outra dúvida é a posição da Rússia, onde alguns importantes grupos petroleiros estão relutantes em seguir o acordo. Analistas apontam para o interesse do presidente russo Vladimir Putin em continuar trabalhando com a Opep, como no histórico acordo de 2016, e seguir estendendo sua influência no Oriente Médio.
 
"Com sua entrada no jogo da Opep, a Rússia tem uma posição excelente na região. Se furar filas e não respeitar as metas de produção, perderia a credibilidade no Oriente Médio", aponta Bjarne Schieldrop, analista da SEB.
 
Entretanto, a influência da Rússia nesta "Opep Plus" – que inclui os países de fora do cartel que fazem parte do acordo – é limitada.
 
"Esse título de 'Putin, novo rei da Opep' é um pouco exagerado. Basicamente, é um triunvirato (associação política de três líderes), onde estão Irã, Arábia Saudita e Rússia", aponta Escribano.
 
Além disso, tanto para a Rússia quanto para a Opep, o alvo são os Estados Unidos, onde, graças ao auge das jazidas não convencionais, a produção de petróleo alcançou em novembro seu nível máximo desde 1983, ano em que esta medição começou a ser feita.
 
"Trata-se (para a Opep e seus sócios) de privilegiar o preço, não a quantidade", garante Schieldrop.
 
Um dos membros latino-americanos do cartel, ao lado do Equador, a Venezuela chega a Viena em sua situação delicada, com uma produção de petróleo historicamente baixa, e sua petroleira estatal PDVSA imersa em um processo de mudança de liderança após o presidente Nicolás Maduro nomear um militar, com o objetivo de "uma restruturação total" da empresa. A companhia é responsável por 96% das divisas do país.