A crise político-econômica na Venezuela atingiu um novo patamar em 2019, e o regime consolidado de Maduro no período entre 2013 e 2018 de repente parece mais frágil. 
Fuente: Poder 360
  
Adriano Pires
 
A eleição de Maduro em 20 de maio de 2018 foi bastante contestada já na época, até internacionalmente, com a oposição doméstica declarando que a presidência foi usurpada de forma ilegítima.
 
O Grupo de Lima, que inclui o Brasil, foi criado por 14 países americanos para tratar da crise política na Venezuela. Já houve muito protesto no país por novas eleições, mas a partir de 10 de janeiro, quando o mandato oficial anterior de Maduro acabou, a oposição se apresentou de forma surpreendentemente unida e, mais significativamente, apoiada pelas democracias ocidentais e latinas, inclusive o Brasil.
 
Como a constituição venezuelana não contempla o que acontece neste caso, na interpretação adotada pela oposição e pela maioria das democracias ocidentais e latinas, a eleição de Maduro não tem legitimidade e a presidência ficou efetivamente vaga. Assim, de acordo com a constituição, o chefe da legislatura controlada pela oposição, Juan Guaidó, declarou-se líder de um governo de transição e pediu para convocar novas eleições, mesmo sem ter poder de fato para tal.
 
O governo norte-americano reconheceu formalmente Guaidó, seguido pelo Grupo de Lima, levando Maduro a romper as relações bilaterais com os Estados Unidos e criar um impasse sobre a situação. A crise trouxe para cena os altos escalões do exército venezuelano, uma vez que seu apoio é o que sustenta o poder de fato. Exceto no caso de uma intervenção militar estrangeira de baixa probabilidade, ainda não há uma solução clara para o impasse.
 
A Venezuela é um grande player do mercado global de petróleo, tendo se associado à OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) desde 1960. Em 2011, o país conseguiu certificar 297 bilhões de barris provados, tornando-se o país com as maiores reservas provadas de petróleo do mundo à frente da Arábia Saudita. Atualmente, são 302 bilhões de barris provados, com os dados de 2018.
 
Quase todo petróleo novo descoberto na Venezuela é pesado, provindo das bacias geológicas de uma região conhecida como cinturão do Orinoco no norte da Venezuela. Seu óleo cru é tão pesado que precisa ser convertido em petróleo de síntese através de processos físico-químicos, com adição de diluentes para facilitar exportações.
 
Dada a falta de recursos devido à queda nos preços do barril do petróleo, de US$ 100 em 2014 para cerca de US$ 60 recentemente, a infraestrutura de petróleo da Venezuela se deteriorou ainda mais no regime Maduro, e se encontra extremamente subutilizada.
 
De fato, a produção de petróleo da Venezuela foi decaindo durante a longa crise política, com subinvestimento no setor petrolífero. O maior membro latino-americano da OPEP está produzindo em torno de 1,2 milhões de b/d (barris de petróleo por dia), uma queda de 600 mil b/d somente em 2018 e de 1,2 milhões de b/d desde o final de 2015.
 
A queda nos preços do petróleo, juntamente com a redução das exportações, afetou fortemente as finanças da economia venezuelana devido à sua dependência das receitas baseadas na exportação de petróleo, que somada à exportação de derivados de petróleo, chega a cerca de 80% das exportações totais do país. A estatal responsável pela produção de petróleo, PDVSA, fundada na década de 1970, está em grave crise financeira e administrativa.
 
A maior parte destas receitas vem dos EUA, que compram cerca de 50% do petróleo venezuelano. Os EUA também têm uma importância para a economia Venezuela por exportar diluentes necessários para mistura com petróleo pesado. Um embargo unilateral dos EUA poderia derrubar as exportações da Venezuela em 500 mil b/d inicialmente, até que outro país encontrasse uma alternativa aos diluentes fora dos EUA.
 
Na última semana, os EUA impuseram novas sanções econômicas à Venezuela, bloqueando US$ 7 bilhões em ativos da PDVSA e direcionaram os pagamentos por petróleo enviado aos EUA para uma conta bancária inacessível a Maduro, como mais uma forma de pressionar o regime. O dinheiro só seria liberado quando Guaidó assumisse o poder ou após a realização de novas eleições. A medida faz parte da mobilização do grupo de países interessados na resolução da crise política venezuelana.
 
A potencial volta da Venezuela ao mercado global com um novo governo de viés de direita atrairá as empresas petrolíferas internacionais e capital estrangeiro. As vantagens dos campos da Venezuela em relação aos brasileiros são sua localização próxima do Golfo do México e dos Estados Unidos.
 
O custo de produção, apesar de o petróleo ser pesado, é competitivo pelo fato de estarem em terra ao invés de em águas profundas offshore, e a produção está muito baixa e subutilizada, podendo ser retomada mais rápido. Desta forma, o Brasil precisa ficar atento, aperfeiçoando a regulação e dando continuidade aos leilões, em particular o da extensão da cessão onerosa se preparando para disputar os investimentos internacionais na medida em que a situação da Venezuela vier a ser resolvida.